Bem mais que glu glu e ié ié – Entrevista Sérgio Mallandro

Por Homero Pivotto Jr.

“Há!”, “glu glu” e “ié ié” são expressões que nos remetem imediatamente ao humorista Sérgio Mallandro. Mas o artista, que tem mais de 40 anos no ramo do entretenimento, vai além. Ele sabe que, para fazer rir, é preciso estar atualizado. E é isso que o carioca mostra em Porto Alegre, no próximo sábado (17), quando apresenta o novo espetáculo “Um Mallandro na Quarentena” no Teatro AMRIGS (Av. Ipiranga, 5311), às 21h. Ingressos à venda neste link: www.bilheto.com.br/evento/832/Sergio_Malandro.

— As pessoas pensam que o show do Sérgio Mallandro é só negócio de “ha!”, “ié ié” e “glu glu”. Não tem nada a ver. Eu até explico como nasceram essas expressões. O espetáculo é novo. O show está muito engraçado, não vá de dentadura senão você vai se engasgar de tanto rir — garante Mallandro, em entrevista para a Abstratti Produtora.

Na apresentação que passa pela capital gaúcha, Sérgio conta, de forma engraçada, como uma pessoa hiperativa como ele se comportou durante o período pandêmico. Além disso, abre o verbo sobre sua carreira e sua vida de um jeito hilário. Nas histórias que fala quando está no palco, cita seu padrasto, Xuxa, Marlene Mattos e outros famosos, bem como interage com o público

Além dos palcos, atualmente, Sérgio arranca risadas — do público e dos convidados — no podcast “Papagaio Falante”, em que protagoniza conversas extrovertidas com pessoas conhecidas. Ele também está finalizando um longa-metragem baseado em sua vida chamado “Mallandro – O Errado Que Deu Certo”.

Na entrevista a seguir — que teve as perguntas enviadas por whatsapp e as respostas recebidas via áudio, cheias de gracinhas —, Mallandro fala sobre como enfrentou a crise sanitária, como é ser comediante atualmente e dá spoilers do show que vem mostrar ao público do Rio Grande do Sul.

Tu tens família no Rio Grande do Sul, certo? Conta pra gente mais sobre isso?

Gosto muito de Porto Alegre. Minha família é de Pelotas. Então, tenho sangue gaúcho com muita honra.

Sérgio, por favor, fala pra gente o que fez o Mallandro durante a pandemia e quanto disso inspirou teu novo espetáculo?

Durante a pandemia eu fiz o que todo mundo fez: ficar trancado, usando máscara quando saía para o mercado. Moro em frente à praia no Rio de Janeiro, então, caminhava na areia, de máscara. Ficava com medo de todo mundo. A mulherada vinha com ié ié e glu glu, e eu: “que que é? Sai de mim!” (risos). Fiquei com medo de tudo. Um dia até transei de máscara. Tinha uma gatinha com quem ficava junto. Um dia ela falou: “tô subindo pelas paredes aqui”. E eu disse: “eu também! Vem de máscara!” No final, hora de embora, cotovelo com cotovelo para a despedida. E eu conto tudo isso no meu show: que eu transei de máscara, como é que foi. Falo também que entrei no Tinder. Aí uma gata veio aqui em casa, e eu caí no golpe do Hinode. Ela veio aqui em casa vender Hinode. Eu conto todas essas histórias, falo também das lives que eu ficava assistindo. Depois fiz show em drive-in, pros carros. Era uma coisa muito esquisita, pois os veículos ficavam piscando o farol e buzinando. E não dava pra ver quem estava dentro, era horrível. Não sabia se a pessoa estava rindo ou chorando, se estava gostando, se estava fazendo amor. A pessoa estava no carro, e a gente fazendo show no palco. A sensação é muito engraçada. Durante a pandemia também entrei em muitos grupos e conto no show quais. Fui expulso de vários! Entrei em vários grupos de famosos: da Ivete Sangalo, do Neymar. Eu conto um monte de coisas, vocês vão morrer de rir. Esse show é um show novo, que fiz no Rio de Janeiro e em São Paulo antes de rodar o filme que estou fazendo agora, “Mallandro — O Errado que Deu Certo”. E em todos os locais foi sensacional, com casa cheia. O espaço onde será o espetáculo em Porto Alegre é muito legal, estou ansioso para chegar aí.

O que diferencia essa atual fase do show daquilo que era apresentado antes? O show promete ir além do glu glu e do ié ié?

As pessoas pensam que o show do Sérgio Mallandro é só negócio de “ha!”, “ié ié” e “glu glu”. Não tem nada a ver. Eu até explico como nasceram essas expressões. Também cito os momentos em que me dei mal, porque aí preciso fazer “ié ié” e “glu glu” em qualquer situação. As pessoas sempre estão pela brincadeira, não me levam a sério. Por exemplo: peguei o covid, pô! Aí estou lá no hospital e, de repente, chegou um enfermeiro, colocou aquela máscara azul, e falou: “Senhor Sérgio Cavalcante, vamos ter de entubar!”. E eu: “o que?” E ele: “Ha, pegadinha do malandro! Meu sonho era te fazer uma pegadinha!”. Eu disse pra ele chamar o cardiologista porque meu coração disparou. E essas situações em que as pessoas não me levam a sério também tem no show. Esse filme que estou filmando agora é exatamente contando as histórias da minha vida, com um roteiro maneiro. Nas apresentações pelo Brasil, tem ainda detalhes sobre o filme. A Xuxa e o Zico participaram das gravações, e eu falo como foi ter eles nas filmagens, que foi bem engraçada. O Lucio Mauro Filho também participou, Fernando Caruso, Nany People. As histórias clássicas eu também conto, pois o pessoal pede. Mas o espetáculo é novo. Falo da situação de vários artistas que passaram pela minha vida. O show está muito engraçado, não vá de dentadura senão você vai se engasgar de tanto rir.

O material de divulgação diz que você cita famosos como Xuxa, Marlene Matos, Silvio Santos e Jorge Ben. Por que resolveu mencionar essas pessoas?

No show eu menciono várias pessoas famosas que passaram pela minha vida com momentos hilários. A Marlene Matos, por exemplo, tem um causo sobre quando fui fazer a chegada do Papai Noel em Porto Alegre, no Gigantinho, se não me engano. Foi muito divertido, e conto com detalhes o que aconteceu. As broncas que ela me deu, que deu no Papai Noel, o que rolou no camarim com a Xuxa. Menciono situações minhas com pessoas famosas dentro do avião, tipo o Zico por exemplo. Gosto de citar porque foram verdades, e as pessoas se divertem bastante.

Tua carreira tem mais de quatro décadas. O que dirias que mudou nos dias de hoje para quem trabalha com entretenimento — considerando toda tua experiência em TV, cinema e música?

Estou há 41 anos nesta carreira. Então, acho que a cada dia a gente melhora mais. Eu estou sempre aprendendo, me reinventando. Estou com meu podcast, o “Papagaio Falante”, que é um sucesso. Muita gente bacana tem passado por lá. A Xuxa, o Wolf Maya, a Solange Couto, o Nelson Freitas, o Marcos Pasquim, Rubinho Barrichello… Hoje temos de estar sempre nos reinventando. A internet nos possibilita comunicar sem ficar dependente de televisão nenhuma. Vejo essa garotada de YouTube se dando bem, o que é muito legal, porque a pessoa faz a vida por si próprio. Acho que, atualmente, a senha da vida, aquela palavra que resume tudo, é compartilhar. Se todo mundo se ajudar, todos vão sempre subir. A estrada do sucesso não é estreita como as pessoas falam, não precisa tirar ninguém de cima e botar para baixo. Uns sobem mais rápido, outros mais devagar. Uns até param pensando em desistir. E é aí que você precisa estender a mão e dizer: “vamos embora!” Hoje pode-se ter uma carreira independente, se virar nos 30 sozinho. Se vai ao encontro da oportunidade, sem esperar o sucesso chegar. É preciso ir buscar. Basta fazer o caminho certo, que é não falar mal de ninguém, não desejar algo ruim para o outro. Se fizer coisa errada, o mal vence o bem durante pouco tempo, mas depois não se sustenta. Penso que todo mundo nasceu para brilhar, o sol é para todos. Tem de estar ligado em tudo.

O que o público pode esperar do espetáculo “Um Mallandro na Quarentena”?

O show tem cerca de 1h30min. Eu interajo muito com a plateia, no improviso. A interatividade é muito boa, faz rir bastante. Acho que nesses 40 e poucos anos, a gente tem de se reinventar. Não dá pra parar. Pensar que vai fazer sucesso de novo porque já fez em algum momento, não existe. Sucesso é agora. Todo mundo tem uma história, mas se você não estiver empenhado no que está fazendo agora, não chega a lugar nenhum. É preciso saber que tem de aprender com os mais jovens. O stand up eu comecei em 2009 e sempre tem teatro lotado. Em Porto Alegre já passei por diversas casas de espetáculo, também sempre lotado. Os gaúchos gostam do Mallandro, e eu adoro os gaúchos. É um povo educado. Sem falar que as mulheres são as mais lindas do mundo. Quando Deus fez o Rio Grande do Sul ele estava completamente de bom humor. Tenho muito carinho. Depois do show, tiro foto com o pessoal. Durante o espetáculo, coloco pessoas no palco. É bem legal. Tá glu glu, tá ié ié, tá bilu tetéia, tá lua de cristal, tá farofa fa, tá sonho de verão, tá o currículo todo.

O que achas do humor nacional atualmente e como é ser humorista hoje em dia?

O humor nacional está bem evoluído. Essa garotada de hoje em dia é muito inteligente, e as pessoas estão se divertindo bastante. É uma nova pegada. Acho que temos de estar constantemente evoluindo. Tem muita gente boa no mercado. O humor de antigamente era diferente, mais caricato. Aquela coisa de imitar as pessoas. Hoje em dia isso segue tendo valor, eu particularmente acho muita graça quando as pessoas imitam alguém. Tem uns imitadores muito bons. Eu nunca tive esse dom de imitar uma pessoa. Não sei imitar ninguém. Aliás, nem sei contar piada. Eu sou um contador de história. No meu show as pessoas se divertem porque eu vou contando história, algo que faço desde criança. Não foi um lance que pensei em fazer. Eu simplesmente fazia na escola, no clube. Na praia, às vezes, eu estava dizendo como foi a festa da noite anterior e as pessoas achavam engraçado. Tinha duas pessoas ali ouvindo, quando vê tinha cinco, dali um pouco tinha 10 e logo 20, em volta me ouvindo. Ficavam rindo. “Pô, meu irmão, você tem que ir pra tv ou para o teatro”.

Tens cuidado com as piadas que vai fazer?

Hoje em dia é preciso ficar esperto, se reinventar a cada dia, ficar atualizado. No meu show tomo muito cuidado para não deixar ninguém desconfortável. Não gosto de falar mal de ninguém, não faço isso. Atualmente, o que você acha engraçado ou o que as pessoas podem pensar ser engraçado, de repente vai atingir alguém que não vê aquilo como engraçado. Isso não tem no meu show. Tomo bastante cuidado. Faço show para deixar todo mundo confortável, feliz e se divertindo. Nunca tive problema de fazer brincadeira e alguém não gostar — e olha que interajo bastante com o público. Eu tiro sarro de mim mesmo. Stand up é tirar onda de você mesmo. Eu zoo a mim próprio, falo dos meus defeitos, das minhas maluquices. Nunca deixo ninguém desconfortável e tomo muito cuidado com isso, porque não quero que ninguém vá ao meu show para se divertir e saia de lá chateado ou triste.

Quais tuas lembranças de Porto Alegre e Curitiba?

Quando falo em Porto Alegre, lembro que há muitos anos atrás tinha um bar chamado Dado Bier. Eu ia à cidade para fazer shows para crianças. E quando acabava eu ia para esse lugar. E você não sabe a loucura que era. Ia para Porto Alegre para fazer show um dia e acabava ficando a semana toda, porque eu adorava. Esse bar tinha as mulheres mais lindas do mundo e era uma alegria geral, todo mundo se divertia e dançava. Namorei algumas gaúchas e sempre me apaixonava. As gaúchas são encantadoras. Chimarrão para cá, chimarrão para lá, eu adorava. O sotaque… barbaridade! Os amigos gaúchos também, sempre firmeza. Tenho muitos brothers no sul. Uma vez ia para Punta del Este passar o réveillon e estive em Porto Alegre antes. Quase fiquei na cidade. Já era véspera do ano novo e eu não tinha saído de Porto Alegre ainda.

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