Um roteiro de sucesso na música atual: entrevista Kamaitachi

Por Homero Pivotto Jr. 

Uma atitude despretensiosa que começa no meio virtual e ganha implicações no mundo real. Trata-se de uma situação que não chega mais a ser novidade, mas que ainda chama a atenção. Ainda mais quando ligada à arte — mais precisamente à música, neste caso —, como é a história do jovem Rafael Gonçalves, 23 anos. Conhecido pela alcunha artística de Kamaitachi, o cantor e compositor acumula milhões de plays nas plataformas digitais (atualmente, só o canal do artista no YouTube tem mais de 2,5 milhões de inscritos).

E, agora, ganha os palcos para mostrar sua mistura sonora de rock, blues e ritmos brasileiros embalados com potencial pop. Nessa nova fase, onde o universo físico das coisas torna-se a extensão de uma carreira iniciada na internet, Porto Alegre é uma das paradas do músico. Na apresentação marcada para 6 de novembro, domingo, no Opinião (Rua José do Patrocínio, 834), às 20h, Kamaitachi vai mostrar, segundo ele mesmo, um trabalho de inspirações cinematográficas — que pode muito bem ser trilha para a tragicomédia da vida como ela é.

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“Minhas músicas são como filmes: começo, meio e fim e muitas emoções durante todo o processo. Meu show é exatamente assim! E pode ter certeza que esse filme tem um final muito feliz”, assegura o artista, em entrevista à Abstratti Produtora, responsável pelo show na capital gaúcha.

Kamaitachi começou na música com uma banda chamada Sala 31, mas logo partiu para carreira solo. Isso em 2017 — mais especificamente em 17 de dezembro, quando postou seu primeiro som intitulado ‘chuvadesexta.gif’.

Sem ambições, passou a compor e editar suas faixas em um celular, apenas com voz e violão, criando clipes para as próprias composições. Com uma lírica afiada, abordando natureza humana e religiosidade, Kamaitachi conta histórias por meio de uma narrativa sombria. Entre seus temas famosos estão ‘Morgana’ (com 24 milhões de visualizações) e ‘Homem Torto’ (pela qual recebeu o disco de diamante da ONErpm por 173 milhões de plays).

Na entrevista a seguir, Kamaitachi revela como se tornou músico, fala sobre colher frutos do sucesso online, explica seu processo de composição e como percebe a própria obra.

Como o jovem Rafael Gonçalves tornou-se Kamaitachi?

Sempre fui fascinado por jogos e filmes, trazendo assim uma grande paixão por criar histórias.

Aliás, de onde veio o nome artístico?

Surgiu por meio de uma conversa com uma amiga, que acabou sugerindo o nome “Kamaitachi”, que em japonês significa “Yokai”, um demônio representado pela imagem de uma fuinha que é responsável pelos cortes do vento frio.

De que maneira a música entrou em sua vida? Quais artistas citaria como referências?

A música surgiu na minha vida na época da escola. Eu e meus amigos tínhamos o costume de ouvir diversos artistas de rock no intervalo. Alguns nomes que vejo como referências são: Los Hermanos, Crumb, Supercombo, The Doors, Tim Bernardes, Bring Me The Horizon, Shawn James, TTNG, YMA e por aí vai.

Quais referências carrega desses diferentes gêneros musicais que se fazem presentes em teu som, como por exemplo o rock, o indie, o pop e até a MPB?

As guitarras têm sido muito presentes em meus últimos lançamentos. Sempre fui apaixonado por misturar elementos mais pesados em contraste com elementos delicados. A mistura sempre me atraiu.

Como teve o insight de mesclar esses estilos como base para um lírica, em parte considerável de sua obra, sombria? O que chama sua atenção nessa temática mais trevosa?

Gosto de tratar minhas músicas como filmes. E, dizendo de uma maneira mais popular, geralmente um filme tem o personagem malvado e o bonzinho. Então, dentro das minhas músicas você pode encontrar todo tipo de emoção, tal como um bom filme.

Inclusive, na internet, há algumas críticas sobre o uso dessa narrativa, digamos, macabra. Te incomoda? O que diria pra quem tece esse tipo de crítica?

Se nem Deus agradou todo mundo, quem sou eu pra dizer alguma coisa (risos). Brincadeiras à parte, não, não me incomoda. Acho que em qualquer área da vida sempre haverá discordâncias, e isso faz parte do amadurecimento pessoal de cada um.

Suas letras têm um vocabulário amplo, característica, geralmente, de quem é afeito à leitura. Aprecia ler, gosta de literatura? Acha esse importante para ajudar na hora de escrever as letras?

Por incrível que pareça, nunca li um livro, mas sempre fui muito curioso quando se trata da língua portuguesa.

Como é o processo de criação do Kamaitachi?

Se tratando das músicas, geralmente começo com a ideia do “roteiro” e venho fazendo melodias e encaixando a letra aos poucos. Nem sempre é um processo rápido. Em algumas músicas, demorei mais de dois anos até finalizar por completo.

Você despontou na Internet organicamente e agora está colhendo frutos dessa visibilidade como artista. Qual a importância do universo online para novos artistas? E como fazer bom uso dele?

A internet é usada como uma “vitrine” do meu trabalho. Foram muitos anos somente dentro da internet, e hoje em dia estou, de fato, colhendo frutos no “mundo real” em forma de shows — algo que inclusive, sempre foi meu sonho.

Algumas composições suas funcionam bem de maneira acústica (só voz e violão, algumas com as batidas juntas). Mas o show tem o reforço de uma banda, certo? Por quê? 

A imagem de ter uma banda sempre foi algo que me fez brilhar os olhos. Com uma banda completa em cima do palco, é possível transmitir emoções totalmente diferentes das que as pessoas estão acostumadas a ouvir em casa. Acredito que a banda agrega muito sonoramente para entregar um espetáculo completo. E, paralelamente, todos os integrantes da banda são meus amigos fora dos palcos. Inclusive meu produtor musical, Marcus Maia, é guitarrista e diretor musical do show.

O que o público pode esperar na apresentação de Porto Alegre?

Sempre que me perguntam isso, e a resposta é a mesma: um espetáculo. Sempre gostei de trazer características teatrais para as minhas músicas e não seria diferente para os shows. Assim como eu havia dito anteriormente, minhas músicas são como filmes: começo, meio e fim e muitas emoções durante todo o processo. Meu show é exatamente assim! E pode ter certeza que esse filme tem um final muito feliz.

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