Urgência em estar vivo e batalhar pela arte — Entrevista Rodrigo Lima (Dead Fish)

O Dead Fish não só mantém até hoje a urgência em estar como também sabe gerenciar a própria autonomia para continuar existindo como banda por mais de três décadas. Com uma trajetória que começou em 1991, em Vitória, no Espírito Santo, o grupo conquistou respeito no cenário independente e ainda conseguiu romper as barreiras do underground para se tornar referência de hardcore em todo o território nacional. Pelo caminho, rolaram inevitáveis mudanças — de cidade, de integrantes e até de formas como assimilar o mundo —, e, mesmo assim, o DF segue tão explosivo quanto um molotov ao vivo e em seus posicionamentos políticos.

Acostumados com o asfalto, a banda sentiu na pele, na mente e no bolso os efeitos do isolamento imposto pela pandemia de coronavírus.

— Eu acho que tá todo mundo da banda doente. É uma situação muito complicada porque nós somos os primeiros a ser afetados e provavelmente os últimos a serem assimilados de volta na vida cotidiana (…). Para mim foi duríssimo, e acho que para minha família também. Primeiro porque eu fiquei desempregado por dois anos. E isso foi absolutamente inesperado para quem tinha lançado um álbum em 2018,Ponto Cego, com o qual fizemos muito pouco show — observa o vocalista Rodrigo Lima nesta entrevista.

Animado com a possibilidade de voltar à rotina na estrada para destruir tudo de novo nos palcos, Rodrigo concedeu entrevista à Abstratti Produtora por videochamada. O papo dá uma ideia de o que esperar nesse momento delicado, porém necessário, de retomada das atividades presenciais em eventos de cultura. Além disso, falamos sobre a trajetória do próprio Dead Fish, arte versus política e nostalgia.

Para quem é do sul e não quer desencontros com o quarteto capixaba — que, atualmente, além de Rodrigo, conta com Marcão (bateria), Ric Mastria (guitarra) e Igor Tsurumaki (baixo) —, programe-se. A banda faz shows em Curitiba (dia 25/3, no CWB Hall), em Porto Alegre (26/3, no Opinião) e em Florianópolis (27/3, no John Bull Pub). Mais infos sobre as apresentações em http://abstratti.com/.

Na faixa-título do álbum lançado em 2004 pelo Dead Fish, “Zero e Um”, tu cantaste: “um bom computador e um carro veloz para me manter distante de mim”. E como foi o caminho contrário, que precisamos trilhar nesses quase dois anos de pandemia, em que mesmo com ajuda da tecnologia, tivemos de nos isolar, nos voltar para nós mesmos?

Rodrigo Lima — Para mim foi duríssimo e acho que para minha família também. Primeiro porque eu fiquei desempregado por dois anos, e isso foi absolutamente inesperado para quem tinha lançado um álbum em 2018,Ponto Cego, com o qual fizemos muito pouco show. Eu não sou uma pessoa do bom computador (risos), do bom telefone nem das redes sociais, mas tive de me adaptar a algumas coisas para continuar me comunicando com as pessoas. E isso, ao mesmo tempo em que me dava um respiro, por conseguir falar em uma live com um amigo meu na Argentina ou em Brasília, por exemplo, me fazia sentir cada dia mais afastado fisicamente. Acho que dois anos depois, mesmo para quem teve a oportunidade de ficar dentro de casa trancado, tem implicações mentais e físicas brutais. Eu sinto isso aqui em casa em mim e nas minhas meninas. Minha mina tá lá há dois anos sentada na mesma cadeira,  inexplicável. Acordo de manhã, ela tá sentada ali na cadeira. Eu chego em casa  e faço o rango  — porque aqui quem faz as coisas de cozinha sou eu — e ela tá no mesmo lugar. Tudo bem que existia antes os trâmites de São Paulo, uma cidade grande, em que você gasta muito tempo para voltar do trabalho, então rolou essa economia. Mas é um cárcere, mental e físico. E eu senti que minha filha, uma menina muito coletiva, agitada, explosiva e corporal como eu, deu indícios de depressão de verdade. Chegamos a levar ela ao médico no meio da pandemia. Mas acredito que a tecnologia nos salvou de um tanto de coisa. Trocando em miúdos, sabendo que a gente tá meio amassado, talvez se não fosse esse telefoninho pelo qual falo com você agora, as coisas fossem piores. 

 

O Dead Fish é uma banda da correria, da estrada e do palco. Como foi ficar afastado das apresentações? E não falo nem como trampo, de ter ficado sem renda, mas como algo que tenho certeza que todos na banda prezam muito.

Rodrigo Lima — Eu acho que tá todo mundo da banda doente. Falando sério,  geral tá doente mental. A gente voltou ano passado, com baita medo. Depois teve os quatro shows do Hangar e a ômicron comeu solta. Mas a gente exigiu passaporte de vacina e, até onde sei, todos estão bem. Eu peguei covid em algum momento. É uma situação muito complicada porque nós somos os primeiros a ser afetados e provavelmente os últimos a serem assimilados de volta na vida cotidiana. Fiz até um texto para o UOL, a  pedido de uma amiga lá. Falei: “não vou parar, cara”. Tô vacinado, preciso achar outro caminho. Existe um projeto de aniquilação do meu meio. Outros setores como futebol ou música sertaneja seguiram. Não que eu seja contra, de boa, adoro futebol, só não sei se sou muito fã de sertanejo. Enfim, eles têm direito de continuar trabalhando. Só que eu pagar por isso, depois de dois anos, não dá. Acho que eu e o batera (Marcão, também integrante do Ação Direta) fomos os que mais sofremos. Como você disse, o DF é uma banda estradeira. Desses 30 anos de banda, creio que uns vinte e tantos foram dentro de transportes para ir a shows. E isso é minha casa, sempre me senti confortável num banco de van, de avião ou de ônibus, correndo atrás, fazendo as coisas acontecerem. Sou muito feliz de ter amigos em muitos lugares do Brasil e de poder visitá-los uma ou duas vezes por ano. Aí, quando isso tudo acabou, mentalmente todo mundo ficou maluco. Acho que o Marco Antônio, se não se tornou um alcoólatra, foi na trave.

 

(risos) Tô rindo, mas é de nervoso. 

Rodrigo Lima — Tô feliz de estar assumindo esse risco, de estar puxando essa corda — mesmo sendo acusado de um tanto de coisas. Vejo que muitas pessoas ficam felizes. Elas vão continuar lá com seus procedimentos de segurança, porque hoje o mundo é outro. A vida mudou, não vai ser mais a mesma coisa. Não foi a mesma coisa depois da gripe espanhola, não foi a mesma coisa depois da Segunda Guerra Mundial e não vai ser a mesma coisa depois da covid-19. Fico feliz de estar puxando isso, de rever os meus amigos e as pessoas que gostam da minha banda em outras circunstâncias. Mas com positividade, com vontade do encontro de novo.

 

Esse lance que tu comentaste é bem pertinente, de a cultura, principalmente o setor de evento — porque é uma atividade que envolve pessoas e, inevitavelmente, aglomeração —, parar primeiro e voltar por último. Vejo com certa frequência a galera questionando por que o futebol pode (nada contra, ressalte-se) e os shows não. 

Rodrigo Lima — Por que o metrô não tem vagões com distanciamento? Por que o ônibus não tem? Não estou querendo justificar uma coisa com outra, mas a gente precisa ir tateando, achando nossos processos. Encontrar nossa sobrevivência, da lida da arte e da música, que são essenciais para corações e mentes de qualquer pessoa no mundo.

 

Creio que o período pandêmico mostrou isso. Não sei se as pessoas assimilaram tal questão, mas quem passou por essa crise sanitária sem ouvir música, sem ver filme, sem ler? Foram essas atividades que nos deram um pouco de alento nessa desgraça que já dura dois anos e deixou todo mundo perturbado. Seria bacana se a galera refletisse mais, tentasse colaborar com esses setores. Por exemplo: a questão do passaporte vacinal que tu mencionaste. A Abstratti apoia que o público apresente, mas a legislação estadual no Rio Grande do Sul, que é seguida pelo executivo municipal de Porto Alegre, diz que em cidades com mais de 90% da população adulta com esquema vacinal completo, a exigência do documento não é obrigatória. Mas, sim, recomendada.

Rodrigo Lima — Temos céticos bastante para entender que a indicação também é mais um fator de segurança. Não que ninguém vai pegar, não é garantia. A gente não sabe nem onde vai pegar, mas eu acho que é mais um fator de segurança. Considero essencial que as pessoas tenham essa sensibilidade conosco no dia do show do Opinião. Vou ficar bastante feliz e até mais relaxado.

 

O Dead Fish é uma banda que tem bastante história: veio de underground, de uma cena fora do eixo tradicional onde as coisas costumam acontecer, passou por mudanças de integrantes… Então, parafraseando novamente uma das tuas letras: o que faz o DF ter essa urgência em estar vivo, essa gana de existir no cenário artístico, de seguir fazendo som?

Rodrigo Lima — Primeiro, uma grande safadeza vagabunda de amar a arte acima de tudo. Tem gente que fala “Brasil acima de tudo”, mas nem Deus está acima da arte. Até porque não acredito em Deus. Então é essa safadeza de amar o que se faz, independentemente de se existe uma recompensa financeira. Penso que agora, aos 49 anos, estou pagando muito caro o preço de ter amado tanto a arte e ter seguido a ponta do meu nariz, minha educação do punk e do hardcore. Mas eu ainda sou muito feliz, considero que perseverar nisso é não só ainda ter muito prazer, sentir muito tesão pela coisa. Como também dar visões para as gerações vindouras. Existe uma geração que tá muito formatadinha, muito dentro dos padrões. O capitalismo conseguiu tomar tudo, até nossas mentes. Arte e cultura têm de ser ultrarrentáveis, popular. Não! Eu vivo dentro do meu nicho, e não é que eu não queira falar para outras pessoas. Eu quero falar para todo mundo, por mim seria extremamente pop. Só que eu vivo muito feliz dentro do meu nicho. E quero que as pessoas entendam, da música e da arte, que elas podem ser muito realizadas dentro daquilo que elas escolherem como caminho de vida dentro da arte.

 

Pergunta dois em um dentro dessa temática: o DF é uma banda que se sustenta, que paga os integrantes? Tipo: vocês conseguem viver só da banda ou têm outros empregos? E, se o DF não tivesse acontecido, rompido a barreira do underground possibilitando que tivessem acesso a certas facilidades de gravação e distribuição, acha que a banda teria seguido?

Rodrigo Lima — A banda acabou em 1996 com a morte do meu pai, e a gente voltou ali sem nenhuma perspectiva no meio de 1997. Eu acredito que sim. A gente teria outros modos de entender o que a gente faz na música. Talvez não tivéssemos saído do Espírito Santo, quem sabe cada um estivesse ali no seu trabalho, de repente eu seria um advogado desses que meus amigos se tornaram depois da faculdade. Não sei. Boa pergunta, é legal tentar imaginar. Sobre viver da banda, não sei quais seus parâmetros de vida, o que você considera essencial para viver. Porque tem gente que, vivendo da forma que eu vivo, seria extremamente infeliz. Não me importo em trocar de carro a cada cinco anos, nem em ter uma previdência rica — não que eu não me importe com a previdência. E eu não quero viver num palacete. Então, o Dead Fish me pagou até certo ponto para eu ter uma vida muito simples, e sou muito feliz por isso. Mas não quer dizer que eu não tenha feito outros trampos de cozinha, como advogado. Todos da banda, acredito, fizeram coisas em paralelo nos momentos de baixa. Sempre fomos o lado da moeda a ser deletado primeiro, vide a pandemia. Não tivemos ajuda oficial de nada. Eu não consegui dar entrada em ajuda do governo. Então, foi preciso correr atrás de alguma forma. Meio que sempre foi assim. O DF é uma banda privilegiada porque conseguiu estar no mainstream, surfamos essa onda. Então conhecemos gente de outros nichos, até dialogamos muito com artistas de outras searas, até fora da música. Mas, para uma vida simples, acho o DF é um privilégio.

 

Sim! É isso, não me refiro a estilo de vida padrão rockstar.

Rodrigo Lima — Sempre me vi como classe trabalhadora. Acho que todo artista tinha de ter uma vida simples como a minha, em todos os nichos. As pessoas me veem e tipo: “olha, ele conseguiu fazer sucesso”. Eu só consegui chegar numa estrutura de vida que me agrada profundamente e que eu queria olhar para o lado e ver todos que estiveram comigo tendo essa oportunidade. E isso não é talento ou ser especial. Todo artista tinha que ter essa vida, conseguir minimamente recursos para uma vida simples e continuar vivendo daquilo que ama.

 

Uma das situações mais castradoras da humanidade é a pessoa não poder fazer o que gosta ou ser tolhida de ser quem ela realmente é, ter receio de se mostrar verdadeiramente. Estamos aí rodeados de preconceitos contra gênero, raça, religião, idade e até o que a criatura vai exercer profissionalmente. E pegando o ditado de que tempo é dinheiro, como fazer para desenvolver uma atividade pela qual se é apaixonado — seja cantar, dançar, escrever —, se a pessoa trabalha em outros serviços para se sustentar, tem de perder horas em transporte coletivo?

Rodrigo Lima — A arte é sempre a primeira vítima desse capitalismo atrasado, o late capitalism, desse capitalismo de desastre. É bem oportuno que todos os artistas estejam deprimidos, sem tempo, sem dinheiro e com o emprego que odeiam. Há de se pensar muito nisso. É um plano, não consequência de algo. 

 

Lembrei daquele som “Capitalism Stole my Virginity”, do International Noise Conspiracy.

Rodrigo Lima — Adoro! É hit essa.

 

Como tu descreverias, resumidamente, essa trajetória de mais de três décadas do Dead Fish em três momentos, pegando cada década de existência da banda: os 1990, os 2000 e os 2010?

Rodrigo Lima — A primeira década acho que é a gang. A segunda é a estrada, a doideira, a loucura, o aprendizado de jovens caipiras do leste e do sudeste brasileiro entendendo o mundo e o Brasil dentro de uma van. E a terceira é, eu odeia a palavra maturidade, mas seria quase isso. Talvez estabilidade

 

Tu és uma criatura extremamente política, já deixou isso muito claro. Os fãs da banda, e até quem não curte mas acompanha de alguma maneira, já deve ter percebido. O que tu pensas de quem diz que arte e política não se misturam? E, dada a polarização, que rendeu algumas incomodações online para o DF — tipo gente dizendo que não sabia que a banda tinha um posicionamento —, tu percebes na prática uma perda de público? Ou essa galera que praguejou vocês na web parecia só gritar alto para assustar. Tipo cachorro que muito late não morde… Pobres cachorros (usando, mais uma vez, título de músicas da banda)?

Rodrigo Lima — Na estrada, pessoalmente, não senti não. Acho que a banda perdeu um pouco de prestígio para mainstream, rádios maiores, marcas e grandes festivais. Mas desde 1991 eu meio que cago para isso, sabe? Acho que nosso público ganhou uma maturidade de 2015 para frente, mais ou menos. Vejo hoje garotada de 17/18 anos nos shows para se divertir, moshar,  extravasar, ter a catarse física e aeróbica que é o show do DF. Mas que chegam já com uma orientação clara de o que é a banda. Até por isso digo que da terceira década para frente é a estabilidade, pois desde então parece que a gente finalmente foi entendido. Nós também, internamente, percebemos uma quantidade gigante de coisas. Na segunda década, que é o trabalho, nós erramos muito. Fizemos muita tentativa e erro, e creio que erramos mais do que acertamos. E isso nos colocou na terceira década com a ideia de saber onde é a estabilidade, por onde seguir. É até um pouco mortificante, parece que não vamos nos arriscar. O que não é verdade, porque seguiremos arriscando, mas sabendo melhor como fazer isso.

 

Quais são tuas lembranças de Porto Alegre? O Dead Fish tem uma história longa com a cidade, desde os anos 1990, tocando no circuito under pelos inferninhos, até show com milhares de gente ao ar livre no 3º Fórum Social Mundial, em 2003, quando rolou uma treta homérica na plateia e a polícia interveio com cavalaria e tal. Teve ainda abertura para o Bad Religion no Gigantinho, em 2004, quando o Jay Bentley (baixista do Bad Religion) estava mais louco que o Batman sem capa. Enfim, o que tu te recordas destes pagos?

Rodrigo Lima — Os três shows que fizemos com o BR o Jay tava doidão. Um amigo até comentou recentemente: “aquele show que vocês fizeram com o Bad Religion em São Paulo, o Jay Bentley estragou”. E eu falei: “vish, você não viu os outros”. (risos) Eu tenho um carinho gigante por Porto Alegre, já pensei um milhão de vezes, quando tinha mais contato com o Zé e a Aline, da No Rest, de ir viver aí. Sempre tive uma admiração gigante pela cena punk e artística de Porto Alegre. Eu viajei para Porto Alegre antes, com a minha mãe, quando era criança, depois como estudante de Direito, fiz um encontro de estudantes em São Leopoldo (município da região metropolitana). Tenho amigos de vida em Porto Alegre. Eu curto a cidade, me vejo um pouco nela, depois de Fóruns Sociais Mundiais, depois de tocar com BR no Gigantinho e também depois de me tornar um habitué no Opinião, que sempre foi uma casa pela qual tive enorme admiração. Assim como tenho pelo Circo Voador (RJ) e pelo Hangar 110 (São Paulo). Talvez se não tivesse feito uma família no início dos 2000, quem sabe tivesse ido para Porto Alegre viver as doideiras, ficar perto do Wander Wildner, do Zé e da Aline, do chef Alan Chaves e seu veganismo, do Knela malucão pedalando e sendo punk Wallride mais maluco que eu conheço. Parando na rodoviária para pegar ônibus até o Uruguai como já fiz. Sinto-me bastante em casa em Porto Alegre e em todo o Rio Grande do Sul. Tem gente que fala que gaúcho é isso ou aquilo, mas eu me sinto acolhido, me divirto, fico feliz.

 

E tuas lembranças, como integrante de banda, de Floripa e de Curitiba?

Rodrigo Lima — Curitiba também é uma cidade com a qual tenho longa história. O Nô (baterista de 1991 até 2009) é de lá. Os dois fundadores do DF são de Curitiba, conheço pessoas. Comecei indo lá no tempo do Pinheads (clássica banda punk rock paranaense), fizemos show no Aeroanta. Vimos show do Ramones (com Raimundos e Sepultura) na Pedreira Paulo Leminski e apanhamos da polícia um dia depois. Tem uma trajetória longa de conhecer pessoas, de amores, de paixões. 

Floripa um pouco menos, começamos a tocar lá um pouco tarde. Tarde naquelas, faz uns 12 ou 13 anos. Tinha um amigo, o Roberto, que se foi durante a pandemia, e ele morava lá. Então, passei alguns verões em Florianópolis antes. Conheço bastante a cidade, mas tenho menos intimidade do que com POA e CWB. É uma cidade linda e maravilhosa, se eu continuar indo logo vou me sentir tão à vontade quanto as outras.

 

Para fechar: se lembra quando éramos mais jovens e tudo parecia ser mais fácil (trecho da música ‘Canção para Amigos’, do disco “Sonho Médio (1999))?

Rodrigo Lima — Lembro! Puts, tô nostálgico. Depois que eu descobri que o Mark Fisher, que tem aquela máxima de que é mais fácil o mundo acabar do que o capitalismo acabar. Ele foi um cara do punk inglês anos 1980 e 1990, depois teve blog de música eletrônica. É um cara que falava de nostalgia. Eu reprimi a minha por quase duas décadas e, agora, com 49 anos, estou numa nostalgia gigante de lembrar como era o punk nos anos 1990 no Espírito Santo, de recordar as pequenas casas, os amigos zineiros que desapareceram ou que hoje são jornalistas. Acho ultranecessário a gente contar essa história. Porque, quando a gente é jovem, é tudo mais simples. Vida adulta é mais complicada, mais complexa, você não está mais tão sozinho no mundo, não dá mais para ser tão atirado. O que não pode te tirar a vontade de poder, a alegria. É um trabalho estar em uma vida adulta e manter aquele amor que se tinha quando moleque.

Por Homero Pivotto Jr.

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